quinta-feira, 20 de setembro de 2012



Por que os cachorros lambem?


Alguns lambem nossas mãos, alguns preferem o rosto e a boca.
Tenho amigos que simplesmente odeiam esta lambição, mas vamos procurar entender porque razão nossos amiginhos fazem isso.

Quando ainda no parto é a boca da mãe que faz o primeiro contato com o recém nascido, rasgando o saco vitelínico, comendo a placenta, cortando o cordão umbilical e limpando o filhotinho.

Este primeiro contato vai cheio de mensagens de cuidado, dependência e proteção.
Segunda lambida decisiva, o intestino dos bebezinhos é estimulado pelas lambidas da cadela. Enquanto os cachorrinhos mamam a cadela lambe o ânus e a barriguinha deles, isso estimula as funções do intestino e a evacuação. Essa não é uma surpresa para algumas de nossas mamães humanas que fazem massagem com óleo de amêndoas nas barriguinhas e bubuns mais enjoados.

Nesta vida inicial em matilha não é raro vermos os carinhos das cadelas lambendo os cachorrinhos, e com lambidas e fuçadas estimulando-os a andar. Com o passar dos dias é possível observar a retribuição dos filhotes que lambem a boca das mães.
Na vida selvagem o filhote desmamado lambe a boca das mães esperando que ela regurgite a caça que irá alimenta-lo.

As lambidas seguem inclusive depois do desmame, limpando a cria, também vejo clara relação com a vida selvagem quando as mães dos mamíferos limpam as crias de parasitas indesejados.
Tenho clientes parentes, mãe e filho, irmãos; onde observo este comportamento de cuidado ao longo de toda a vida.

Transportando isso para o seu cãozinho que o espera ansioso ou que pula na sua cama para acorda-lo, imagina quanta coisa ele quer lhe falar com isso: dependo de você, preciso que você cuide de mim, te adoro mais que tudo nesta vida, só tenho olhos para você, sua boca tem um cheiro gostoso que abre meu apetite, que mais você diria?


Lambeijos para todos


Tia Lena



COMPORTAMENTOS HERDADOS
Escrito por Maria Helena Dabrius - Bióloga USP

Vemos a presença dos ancestrais primitivos nos nossos cães em ações simples e rotineiras, as quais muitas vezes nos parecem inúteis e sem sentido.

Mas não se iluda, um dia estes comportamentos  foram fundamentais de algum modo para a sobrevivência da espécie.
Hora de dormir, observo cães que preparam sua cama, rodam, rodam, rodopiam, por inúmeras vezes, chegam a cavoucar a cama, afofando, tal qual fazem os chacais e lobos  em liberdade, preparando um ninho ou uma toca para repousar. Gostam de entrar em caixas, atrás dos móveis, dentro de armários, igual as lobas na hora de dar a cria, procurando uma toca apertada, um refúgio seguro.
Ataque surpresa

Mesmo seu cão sendo manso talvez você já tenha observado tal atitude em brincadeiras, observe seu cão se preparando – abaixa a cabeça, ficando quase agachado, como para esconder-se, alguns até num ato preparatório do bote dão uma reboladinha nas ancas. Depois como em um salto pulam sobre a presa imaginária. Algumas vezes, estudando o ataque, em alerta levantam uma das patas. Observo muito este comportamento em filhotes brincando. Tal qual um treino preparatório para caçada.

Coco é a questão: 

Após fazer o coco, os cães fazem movimento de “enterrar”, jogando as patas para trás repetidamente, cheirando por vezes o coco e conferindo. Nas patas os canideos tem glândulas sudoríparas que liberam odor ao raparem o chão, assim, com este ato demarcam seu território.
Você sabia que o um Lobo Guará pode andar até 60km por dia e o território de um casal demarcado com as fezes gira hoje em torno de 20km, no passado chegava a 300km.

Rolar e esfregar:

Tenho um Cocker Spaniel (Jeremy) que era um promissor campeão, mas prepará-lo para as pistas significava ter um pelo impecável e para isso eu teria que mante-lo confinado, o que mataria ele e eu de infelicidade. A vida dele e alegria extrema é rolar na grama, se esfregar na terra e sentir o aroma úmido que levanta. 
Meu avo por outro lado teve um basset (Diky) que tinha o mesmo hábito porém com uma preferência pra lá de repugnante, rolava na carniça, mais um manifestação de comportamento adquirido.
Na vida selvagem este hábito pode ter várias utilidades, o lobo pode estar se limpando, pode disfarçar seu cheiro para confundir um predador.


Urinar - a identidade , 

A urina nos canídeos é usada como demarcação de território, vemos ainda hoje isso em lobos, chacais, hienas e nos nossos cães. Lilika uma alegre Boston terreir,  que se hospedava conosco, quando passeava,  urinava tal qual as fêmeas de hienas fazem, ficava em pé nas patas dianteiras e soltava jatos de urina nas árvores, pedras e paredes. Interessante pensar que as hienas vivem em uma estrutura familiar matriarcal.
Nos cães a demarcação de território é um comportamento mais frequente em machos, sendo esta  razão de recomendarmos a castração precoce que em tese elimina um comportamento herdado, hoje inútil.

Citando Charles Darwin : .... "sempre que qualquer sensação de desejo, aversão, etc. tenha ocasionado algum movimento voluntário durante uma longa série de gerações, uma tendência à  execução de movimento similar será quase certamente desencadeada toda vez que a mesma – ou semelhante associação, ainda que fraca for experimentada ; não importando que o movimento seja nesse caso absolutamente inútil".

Os comportamentos herdados, no mínimo servem para lembra-lo que seu cão descende de um remoto ancestral , hoje domesticado ainda carrega uma bagagem genética valiosa que o liga a uma vida livre e selvagem.

Você gostou do artigo, envie sua opinião. Se tiver fotos do seu amigo que ilustrem o que comento envie para Tia Lena – lena@eventiva.com.br

Escrito por Maria Helena Dabrius - Bióloga USP

Considerações feitas a partir da leitura de: “A expressão das emoções no homem e nos animais” – Charles Darwin.

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